Apesar de não tratar diretamente do desastre que ocorreu recentemente com o desabamento dos morros nos litorais, é impossível não fazer paralelos entre o documentário e esse fato. Já que ambos deixam claro como o descaso e ineficácia do governo coloca em risco um dos nossos direitos básicos: a moradia.
Muribeca, novo longa de Alcione Ferreira e Camilo Soares, mostra como está o conjunto habitacional que dá o nome do documentário, localizado em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, que após problemas estruturais e uma longa luta na justiça ficou vazio e abandonado.
Com imagens do presente intercaladas com arquivos das décadas passadas, junto com as entrevistas de antigos moradores e pessoas que ainda moram na região, fica claro como a evacuação do Muribeca mudou aquele local, afetando comércios e as casas do arredor do prédio.
E mesmo sem citar os responsáveis diretamente, o longa deixa claro como a especulação imobiliária que a região vem sofrendo é uma das principais responsáveis pelo atual estado da construção que antes abrigavam dezenas de famílias.

Talvez esse seja também o ponto fraco da obra, já que falta ir mais fundo nessa questão, e mostrar como o processo dessa especulação está acontecendo na cidade, já que as únicas informações que temos sobre ela são falas rápidas dos entrevistados.
Isso é uma escolha dos realizadores, que focaram em mostrar mais como o local está agora do que debater esses problemas de forma mais aprofundada, porém isso acaba enfraquecendo a mensagem principal da obra.
Mas apesar disso, é impossível terminar o filme e não se perguntar para onde foram esses moradores, e quais são as condições que eles vivem atualmente. Será que todos conseguiram uma boa moradia? Ou tiveram que se mudar para lugares mais afastados e perigosos, já que era aquilo que estava disponível no momento?
Pensando no contexto atual do país, e que boa parte dos antigos donos de apartamentos do Muribeca estavam realizando ali o seu sonho da casa própria, é quase impossível pensar que todos conseguiram se reerguer depois desse baque. O que torna o documentário ainda mais importante.




