Com um lindo retrato de uma família bem brasileira, Marte Um é aquele filme que conquista nossos corações na forma simples e delicada que conta sua história, tão comum em tantas casas no país.
Acompanhamos a rotina da família Martins, onde cada integrante está passando por um drama pessoal que acaba se interligando e alterando a vida e perspectiva de todos na casa. E a forma como eles superam esses conflitos além de emocionante, mostra um lado pouco explorado quando os personagens são pessoas integrantes da classe média baixa.
Na maioria das vezes em que os protagonistas são negros de classes mais baixas o foco da narrativa fica nas críticas sociais e e na falta de esperança e perspectiva que acompanha suas vidas. Mas Marte Um busca mostrar justamente como o união dessa família e comunidade ajudam eles a crescerem e superar os problemas.
Lógico que a questão financeira e de classe é abordada, e assim como questão política; também presente no longa; o foco não é mostrar como essas coisas impactam a vida da família de forma direta. O que dá mais camadas e nuances para seus personagens, já que não reduz eles à um produto de onde vivem, e reconhece que eles são indivíduos tridimensionais, com sonhos e personalidades bem definidos.

Quem melhor representa isso é Deivinho, que recebe do pai todas as expectativas para melhorar a condição da família através do futebol. Porém ele sonha em ser um cientista e ir para Marte. E esse drama que guia boa parte do roteiro e ilustra bem a importância do diálogo e acolhimento, que é a mensagem principal do longa.
O mesmo se repete com o arco de Eunice, que busca ser independente e se mudar com sua namorada para uma nova casa. E o filme é excelente na forma como aborda sua sexualidade, mostrando que o conflito que ela tem com seus pais não está ligado a isso, mas sim à dificuldade que eles tem de aceitar que sua filha já é adulta e está pronta para sair de casa.
E justamente por colocar esses dilemas como algo que no fundo é sobre o carinho e amor que todos sentem, que o final é tão emocionante. Já que é fácil se conectar com esses momentos e dilemas, que são comuns no momento em que os filhos se tornam mais seguros de si e buscam sua própria trajetória.

Todos os atores estão excelentes, e suas interpretações são tão naturais que muitas vezes esquecemos que estamos vendo um filme, e não pessoas que conhecemos. O que torna fácil se conectar com eles e com a história, e o ótimo tratamento do roteiro consegue tornar todos simpáticos, e mesmo que não concordemos com algumas de suas atitudes, no final estamos apaixonados por todos.
Levando em conta todas as suas qualidades técnicas e esse olhar tão lindo sobre família é fácil entender como o filme tem conquistado tanto destaque. Sendo cogitado no momento como um dos possíveis enviados do Brasil para o Oscar de 2023.
Marte Um é aquele filme que só vendo para entender todos os sentimentos que ele trás, sendo uma obra nacional obrigatória desse ano!




