Rua Guaicurus | Um olhar sincero e humano sobre a prostituição

A prostituição ainda é um tabu na sociedade. E fica no limbo do conhecimento público, como aquilo que é inegável que existe e todos sabem, mas ninguém comenta. Sendo um tema complicado até mesmo dentro de ambientes mais progressistas e feministas, que ainda não chegaram a um consenso sobre qual seria a melhor forma de abordar ela.

E, normalmente, quando vemos uma obra que trata desse assunto ela acaba discutindo mais as questões e problemas sociais que levam à existência dessa profissão. E o maior trunfo de Rua Guaicurus está justamente na forma como o filme não cai nesse território e está mais interessado em falar sobre as mulheres que seguem esse caminho.

A rua Guaicurus, está localizada em Belo Horizonte, e considerada é a maior área de prostituição do país. E é com esse plano de fundo que o diretor João Borges acompanha o cotidiano de três mulheres que moram em um dos prédios da rua.

Foto: Divulgação

Uma é a nova moradora e está aprendendo sobre o novo trabalho, outra é a responsável pela organização e cuidar das novas meninas, e por último temos a profissional que já atua há vários anos e pensa em mudar de cidade e vida.

Mas em nenhum momento o filme está interessado em aprofundar suas histórias prévias, ou o que levou elas até lá. O foco fica em quem elas são, suas rotinas e como são seus relacionamentos, tanto com os clientes como com as outras moradoras.

Seguindo essa abordagem e misturando documentário e ficção, temos um retrato muito humano e delicado sobre as vidas e cotidianos desse prédio. Sem nunca julgar ou questionar se os motivos individuais delas são “validos” ou não, vemos que apenas a existência delas já é de extrema importância, e só isso já deve ser celebrado.

Com vários trocas de diálogos e experiências, elas dividem seus traumas, medos, alegrias e conquistas. Essa abordagem tão humanista, torna difícil saber se as cenas que acompanhamos são encenadas ou não.

Foto: Divulgação

Com uma câmera estática e crua, o filme todo passa a sensação de que somos meros espectadores tendo o privilégio de estar lá. Até mesmo as cenas sexuais são usadas como um mero detalhe daquela rotina no filme. Sem torná-las incomodas ou eróticas, o que é algo raro e difícil de ser alcançado, já que vai contra o padrão da indústria.

Sem dúvida Rua Guaicurus é uma das melhores obras sobre o assunto. E todos que desejam poder discutir e comentar essa assunto devem colocar ele como referência de estudo.


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