Ilusões Perdidas | Uma crítica do passado que serve para o presente

A mais nova adaptação da obra de Honoré Balzac consegue ser leve enquanto transmite sua mensagem, e apesar de retratar a sociedade parisiense de 1830, suas mensagens e críticas talvez sejam ainda mais importantes hoje.

Ao acompanharmos a jornada de Lucien de Rubempré na capital francesa, vemos como a sociedade é corrupta e fútil em vários níveis. Ninguém sai ileso do olhar reprovador de Balzac, pegando desde os monarquistas, que comemoravam a derrota de Bonaparte, até os jornalistas liberais.

Lucien serve mais como um condutor para o público entender o funcionamento dessas diversas esferas sociais, e muitas vezes é fácil se perder com tantos nomes e esquemas. E aí entra a voz do narrador, que consegue, de maneira bem humorada explicar e aprofundar os dramas que vemos em tela.

Foto: Divulgação

Ele já começa contando sobre a saída do protagonista da vida rural, vista como inferior pela capital depois que ele se envolve com a esposa do maior lorde da região. Isso já mostra o tom debochado e crítico que vai seguir pelo resto do filme. O roteiro não escolhe mocinhos e vilões, e mesmo que Lucien seja uma vítima no final, o texto deixa claro que ele também é causador do seu infortúnio, seja pela sua grande ambição, ou pela sua inocência em não entender as tramas que envolviam ele.

Provavelmente a parte mais interessante do longa é acompanhar os esquemas dos jornais da época, que emitiam opiniões e críticas favoráveis ou negativas para quem pagasse mais. Isso coloca em cheque a suposta impessoalidade e meio termo que os jornais sempre tentam buscar.

Mas no nosso mundo atual, onde cada vez mais as pessoas buscam percebem porquê determinadas pessoas emitem uma certa opinião ou não, ainda mais no universo de influenciadores e produtores de conteúdo, o texto faz um ótimo paralelo com várias situações que são comuns no nosso dia a dia. Tornando a obra ainda mais importante na sua estreia.

Foto: Divulgação

Também é interessante a forma como o texto usa as figuras femininas. Não li o livro, e não sei se isso é um traço da adaptação ou da obra original. Mas a forma como foi dada nuances para suas vivências foi feita de forma incrível. E mesmo que não concorde com o final de algumas, fica claro que infelizmente essa parte é um retrato da época em que o filme se passa.

Sem dúvida um dos filmes mais lindos que vi esse ano, todo o design de produção e de figurino está espetacular! E toda a Paris é muito rica na sua construção. Se o filme fosse uma obra em inglês ele facilmente chegaria nas principais premiações, e todos os prêmios em festivais que ele tem levado são muito merecidos.


Deixe um comentário